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baixapombalina - blog sobre as polí­ticas de intervenção na Baixa Pombalina

 

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Banca de Jornais veja aqui as edições de hoje

 

quinta-feira, novembro 06, 2003

 

AZULEJO POMBALINO


Padrãodecorativo
«pombalino»,ca. 1760 · 1780, MNA inv. 914.
fotografía: José Pessoa (DF-IPM)



terça-feira, novembro 04, 2003

 

Nos passos de Pessoa [1]


“ […] nesta cidade luzidia e cheia de gente, o castelo ao alto, muitas lutas e canseiras cruzadas e sonhadas pela baixa pombalina por onde correram os seus passos em horas errantes e nocturnas de poeta sonhador e lunático, entre a 'Brasileira' do Chiado e as ruas da Conceição ou dos Douradores, Pessoa ainda hoje pode 'reencontrar' ao voltar da esquina da rua da Prata ou da Assunção do seu desassossego quase diário, no rosto calado e alegre de uma rapariguinha feliz pelo chocolate que saboreia em almoço a correr, de cara suja e agarrada à saia da mãe:


Come chocolates, pequena,
come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo
senão chocolates.
Olha que as religiões todas
não ensinam mais que a confeitaria!
Come, pequena suja, come!”



Serafim ferreira
Jornal "a Página"
Nº 68
Ano 7 | Maio 1998
Pag. 26


 

«LuzBoa» em Lisboa

No próximo ano [de 21 de Junho a 4 de Julho] Lisboa vai acolher mais uma bienal : a Bienal Internacional da Luz, «Luzboa».” Mas para já e ainda antes da abertura oficial da bienal, desenvolve-se o seminário internacional «Exercício sobre a Luz», que decorrerá entre 5 e 7 de Novembro no Instituto Franco-Português, e de 10 a 15 do mesmo mês, na Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa, um atelier de desenho urbano intitulado «Desenhar a Luz, fazer céus»”. [do site]
As múltiplas intervenções e actividades procuram tratar a luz como elemento de qualificação e valorização do espaço urbano; esta iniciativa procura levar a repensar práticas de iluminação como requalificadoras da cidade – dos seus espaços públicos e do património; em suma, o “discurso sobre a luz e o seu papel no meio urbano”. A baixapombalina, obviamente, está atenta a todas as iniciativas requalificadores da cidade e do seu património.


 
Praça do Comércio cheia de luz e de cor

O espectáculo de luz, pirotecnia, laser e som, que está a 'pintar' os edifícios da Praça do Comércio desde ontem e se manterá até 3 de Janeiro, entre as 19 e as 24 horas, será - segundo Pedro Santana Lopes - «uma combinação perfeita para um acontecimento que se quer de referência futura, para projectar ainda mais alto Lisboa. [DN, Quinta-Feira, 4 de Dezembro de 2003]

segunda-feira, novembro 03, 2003

 

O MITO DAS ESTACAS E DOS NÍVEIS FREÁTICOS - intervenção esclarecida da “Lisboa Abandonada



O Engenheiro António Borja Araújo [Eng. Civil do IST] enviou a "baixapombalina" um mail com o título O MITO DAS ESTACAS E DOS NÍVEIS FREÁTICOS no qual fazia a indicação dum site onde, já em 25 de Fevereiro deste ano, alertava para esta polémica.
A "baixapombalina" concorda com os argumentos históricos e arqueológicos que apresenta; mais uma vez se prova o que já dissemos neste blog - as políticas de incúria e de abandono relativamente à BAIXA POMBALINA nas últimas décadas, constituíram um verdadeiro terramoto . Estaremos à altura de lhe tratar dos escombros?
Transcreve-se o mail recebido e um pequeno excerto da intervenção do Eng. A. Borja Araújo:

Caro blogger

O «www.lisboa-abandonada.net» já em tempo oportuno se tinha ocupado com a polémica das estacas e dos níveis freáticos; caso seja do seu interesse, pode consultar :


http://www.lisboa-abandonada.net/forum/read.php?f=1&i=536&t=536

Repare como, curiosamente, ninguém se interessou em debater o assunto na altura.

Cumprimentos,

B. Araújo”

[...] Reveja-se uma alargada reportagem que a TVI fez recentemente sobre o mesmo assunto, em que o referido presidente (engenheiro civil) profere declarações que a reportagem corrobora com a opinião de especialistas tão qualificados como “comerciantes da zona”, “reformados habitantes em sótãos degradados”, etc.[...]

Chega-se ao ponto de mostrar uma habitação horrivelmente desfigurada, onde o respectivo morador afirma que «desde que começaram as obras do Metro no Terreiro do Paço, o telhado do prédio deixa entrar mais água» !!! Ou a afirmação do repórter, alarmado pelo facto de os vestígios romanos existentes sob o edifício do BCP «já não estarem cobertos por água, sinal de as obras do Metro e da construção dos parques de estacionamento subterrâneo têm feito baixar o nível freático dos solos da Baixa»; e este tipo de afirmações é comum na boca de outras pessoas que deveriam ter algum cuidado com o que dizem; será que eles pensam que os romanos tinham construído os referidos edifícios DEBAIXO DE ÁGUA ? Ou que ignoram que a cota actual das ruas da Baixa foi alterada durante a construção pombalina, para cerca de 6 metros acima do seu nível anterior ? 6 metros é a altura a que o pavimento de um segundo andar fica relativamente ao solo !!!

[...] A baixa pombalina e a cidade medieval que a precedeu estão construídas sobre o leito de um antigo esteiro do rio Tejo semelhante aos do Montijo e do Seixal, ainda hoje existentes. Esse esteiro bifurcava no local do actual Rossio, seguindo um seu braço para a zona das Portas de Santo Antão e outro para a do Martim Moniz. Na praia aqui existente, acamparam os cruzados que colaboraram com D. Afonso Henriques na conquista de Lisboa aos «mouros». Ainda hoje existe na toponímia local o vestígio da ribeira que aqui desaguava – o Regueirão dos Anjos. Ora, ao longo dos séculos, a cota dos terrenos da cidade foi subindo gradualmente, por acumulação de detritos sobre os terrenos naturais. Lembremo-nos que Lisboa foi assolada por diversos sismos arrasadores, e não apenas pelo de 1755. Na Idade Média não existiam bulldozers nem camionetas para a remoção dos entulhos produzidos por estes cataclismos. A solução era nivelar-se o terreno e reconstruir-se sobre os restos da cidade anterior.[...]

Os níveis freáticos originais sob a zona da actual Baixa estão directamente relacionados com a altura das marés do rio Tejo e são, por isso, algo variáveis. Se atendermos a que, partindo do Cais das Colunas, as ruas vão sempre subindo até passarmos as zonas dos Restauradores e da Rua da Palma, antigos limites montante dos antigos esteiros (e continuam subindo), facilmente se compreende que esses níveis freáticos seriam muito profundos relativamente às cotas dos actuais arruamentos.

Pretender-se que as actuais obras de construção em escavação estão a contribuir para a alteração desses níveis é uma afirmação, no mínimo, arriscada. Onde estão os registos das cotas atingidas pelos níveis freáticos nas diferentes épocas históricas ? No subsolo do Rossio existem os vestígios arqueológicos da hipódromo romano; no subsolo da Praça da Figueira, os do Hospital Real de Todos-os-Santos (seiscentista), ambos a cotas bastante profundas relativamente aos actuais pavimentos. Estas edificações históricas seriam subaquáticas ?

Quem alega riscos de degradação das edificações da Baixa Pombalina, consequente de obras correctamente projectadas e executadas com toda a tecnologia moderna, porventura já esteve na estação de metro em Picadilly ? Salvo o erro, entrecruzam-se aí seis linhas UMAS POR BAIXO DAS OUTRAS, algumas construídas ainda no século XIX ... Paris e Londres são dois bons exemplos de como não se passa nada de extraordinário quando se constróem linhas de metro, estacionamentos subterrâneos, passagens viárias desniveladas, etc. nas margens de um rio, ou mesmo por baixo deste !

Se as acções de lobbying por parte dos agentes económicos é uma realidade dos nossos tempos, já é mais lamentável que técnicos que deveriam ser responsáveis nas suas intervenções públicas, não resistam à tentação de se verem publicados em letras gordas, nem que para isso tenham que recorrer às mais malabarísticas manipulações da verdade científica. Assim, engenheiros civis e outros profissionais prestam-se a um triste espectáculo ao intervirem de forma desastrada sobre este assunto, esquecendo que ao técnico compete, antes mais, a honestidade intelectual e profissional.

Que a Baixa Pombalina está “a afundar-se” é uma verdade, mas é uma verdade metafórica.

Está “a afundar-se” no sentido sociológico, porque é cada vez mais uma zona de cidade deserta à noite, entregue à marginalidade. Está “a afundar-se” porque as suas edificações se estão a degradar, não por causa de obras que contribuem para a modernização da cidade, mas por falta de obras de conservação e reabilitação dos próprios edifícios. Telhados destruídos, fachadas permeáveis, redes de águas e esgotos com roturas, instalações eléctricas obsoletas, tubagens de gás com fugas, madeiras apodrecidas, janelas e sacadas que não vedam a água, dois séculos e meio de obras de alterações inadequadas e imprudentes, acrescentos de dois e três andares sobre a configuração inicial de R/C + 3, habitações transformadas em armazéns de toda a espécie de materiais de alto risco, enquadramento legal e fiscal obsoletos, etc., uma lista interminável e criminosa de patologias, acções e omissões que transformam a Baixa num barril de pólvora que não está pronto a explodir, porque já começou a explodir no incêndio do Chiado. Nem assim a mensagem foi compreendida.

Ao se desviar a atenção do público das verdadeiras razões do risco, focando-a em obras de engenharia em curso, que não sendo isentas dos seus riscos específicos, por isso mesmo são ferreamente monitorizadas e controladas, está-se a prestar um mau serviço à cidade. Mentes mal intencionadas poderiam até pensar que o que se pretende é desviar a atenção dos verdadeiros problemas destes edifícios antigos, por simpatia ou favorecimento para com os respectivos responsáveis. Contrariamente ao que o público geral pensa, a maioria dos “senhorios” ou proprietários incumpridores da suas estritas obrigações para com a conservação dos seus imóveis não é constituída por privados. Os degradados edifícios da Baixa pombalina e de outras zonas degradadas da cidade, habitados ou abandonados, são propriedade do Estado Português, da Câmara Municipal de Lisboa, da Santa Casa da Misericórdia, de Bancos e Seguradoras, e de outras entidades cuja capacidade económica excede substancialmente a dos comuns particulares. E esses problemas, referidos no parágrafo anterior, nada têm a ver com o Metro, com os parques subterrâneos, etc.

Não se pense que sou defensor da pertinência da execução de todas estas obras, embora o seja de algumas, nomeadamente de todas as que favoreçam a melhoria dos transportes públicos e a futilidade da utilização do transporte privado. O que sou é intransigentemente acusador de um Estado laxista que há cerca de um século vem cometendo o maior crime de lesa património de que tenho notícia.”

António de Borja Araújo, eng.º civil IST»


 

A "baixapombalina" agradece e retribui as palavras simpáticas do mail que recebeu



Caro "Baixa Pombalina",

Antes de mais, gostaria de lhe dirigir os meus sinceros parabéns pelo trabalho de divulgação histórica, arqueológica e cultural da Baixa Pombalina.

Foi uma alegre surpresa deparar-me com este "blog" de conteúdo cultural tão eficaz. É que ainda fazem falta muitos mais!

A propósito do tema da construção pombalina em "gaiola", recordo-me de ter lido há meses algo sobre o assunto. Se me permite a ousadia, submeto-lhe aqui uma parte dos apontamentos que elaborei para as minhas próprias investigações históricas (relacionadas mais com a História marítima), assim como a indicação das fontes em que me baseei. Note-se que o Eng.º Cóias e Silva tem investigado e publicado extensivamente sobre este assunto fascinante.

"O conhecimento técnico acerca das “gaiolas pombalinas”, fundações das casas construídas após o terremoto de 1755 destinadas a garantir a sua segurança anti-sísmica, terá sobrevivido até à década de 30 do século XX. Este conjunto de regras técnicas de construção anti-sísmica, hoje reconhecidas como pioneiras na Europa, permanecem, porém, desconhecidas."
Cf. José-Augusto França, Lisboa Pombalina e o Iluminismo (Lisboa, 1987), cit. in Vítor Cóias e Silva, “Um Novo Modelo (e uma Nova Visão) do Edificado Pombalino”, in Monumentos, Lisboa, n.º 6 (Março 1997), pp. 80-85, a p. 81.
O autor (Cóias e Silva) inclui exemplos de visualização e modelização das estruturas em AutoCAD, segundo “caracterização geométrica” obtida por processos não-destrutivos.

Longa vida ao "Baixa Pombalina" e seu autor.

Saudações marítimas,

http://maritimo.blogspot.com



domingo, novembro 02, 2003

 
Por razões desconhecidas a "baixapombalina" foi fortemente abalada por um sismo informático [coincidência com o dia do terramoto de 1755 ???].
Face à catástrofe, o blog conseguiu pombalinamente resistir …

 

Inquérito do Marquês de Pombal ao Sismo de 1755

"A análise de documentos históricos é uma ferramenta importante para o conhecimento da perigosidade sísmica da zona da Baixa.
O sismo de 1755, em particular, foi alvo de numerosos relatos contemporâneos, incluindo um inquérito à escala nacional enviado a todas as paróquias pelo então primeiro ministro Marquês de Pombal." [in,IST-Professor João Filipe de Barros Duarte Fonseca (ICIST)]
A “baixapombalina” divulga um pequeno excerto desse inquérito:



 

No PÚBLICO - "Proposta Nova Explicação para o Terramoto de 1755"



“Durante vários dias, um grande incêndio destruiu o que é hoje a Baixa Pombalina. Quase 250 anos depois, ainda são muitas as interrogações. Onde foi o epicentro do sismo? Ou como interpretar os relatos da época, que parecem contraditórios? Cientistas do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, propõem uma nova explicação para o terramoto de 1755, na revista norte-americana "Bulletin of the Seismological Society of America". Dizem que houve dois sismos quase ao mesmo tempo.
A equipa do sismólogo João Fonseca, da qual fazem parte as estudantes de doutoramento Susana Vilanova e Ana Catarina Nunes, vasculhou os relatos da época. Serviram-se do inquérito ordenado pelo Marquês de Pombal, que por sinal foi o primeiro feito com bases científicas e marcou o nascimento da sismologia moderna.
Enviaram-se perguntas, de resposta obrigatória, para todos os párocos do país. "As perguntas estavam muito bem feitas. Por exemplo, quanto tempo durou?, o que foi observados nas fontes, nos rios e terrenos?, foram sentidos outros terramotos a seguir?, houve danos na paróquia?", conta João Fonseca. "As respostas permitem ainda hoje investigar com bastante rigor o que aconteceu, porque os párocos eram pessoas cultas."
Os inquéritos que chegaram até hoje estão na Torre do Tombo, em Lisboa. Mas, em 1919, o tenente-coronel Francisco Luiz Pereira de Sousa, que era engenheiro e foi assistente da Universidade de Lisboa, publicou uma compilação dos inquéritos e de diversos textos da época descritivos do sismo, como cartas de pessoas ligadas à Igreja e relatórios de conventos da região de Lisboa. Este trabalho também serviu de fonte.
Usaram-se ainda outros trabalhos. Um de 1756, de Moreira Mendonça, com informações científicas sobre o sismo, e outro de 1758, que é um inquérito genérico às paróquias, organizado pelo padre Luís Cardoso. Os relatos de comerciantes ingleses em Lisboa, que tiveram de enviar relatórios para as suas empresas em Inglaterra, foram outra maneira de ter descrições do terramoto. "Esses documentos foram até publicados na imprensa inglesa da época. E usámos também relatórios de comandantes de navios mercantes ingleses que estavam no Tejo."
De todas estas fontes ressaltavam algumas contradições. Embora continue sem se saber ao certo o sítio do epicentro, as enormes vagas oceânicas que produziu - o "tsunami" - não só indicam que foi no mar como bastante longe de Lisboa. "O 'tsunami' levou cerca de uma hora e meia a propagar-se desde o epicentro até Lisboa", explica João Fonseca. Por outro, a intensidade extremamente alta do sismo na região de Lisboa sugere um epicentro próximo.
Nos anos 70, pôs-se a hipótese de o epicentro ter sido no Banco de Gorringe, a sudoeste do cabo de São Vicente e a 350 quilómetros de Lisboa. A hipótese surgiu porque foi naquele banco - uma estrutura alongada, com cerca de 100 quilómetros, que fica a uns 50 metros de profundidade, numa zona que atinge mais de 3000 metros - que teve origem o sismo sentido em Lisboa em 1969. Mas, sublinha o sismólogo, é difícil explicar tanta destruição na zona do Vale Inferior do Tejo com um epicentro tão distante.
Assim, nos anos 90, cientistas do Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa, da equipa de Luís Mendes Victor e de Miguel Miranda, e do Instituto de Geologia Marinha de Bolonha, em Itália, da equipa de Nevio Zitellini, propuseram um epicentro alternativo em falhas mais próximas da costa. Continuam a ser no mar, porque houve um "tsunami", mas mais perto, a cerca de 100 quilómetros, em frente à costa alentejana, para explicar os efeitos tão grandes na região lisboeta.
Sismo causa sismo
Mas outras aparentes contradições ressaltam dos relatos da época. O pároco de Benavente descreveu que, numa zona próxima, os barcos que flutuavam no Tejo ficaram em seco e a terra subiu dos dois lados do rio. Sugere, assim, que houve uma deformação do terreno, tal como os registos cartográficos mostram alterações substanciais do rio entre Benavente e Vila Franca de Xira. Também um dos comandantes ingleses disse que viu os navios nas docas serem arrastados para a água, em direcção à barra, o que sugere, de novo, deformações no rio. "Isto aconteceu imediatamente depois do sismo e antes da chegada do 'tsunami'."
Ora, relatos como estes levaram a equipa a pensar num segundo sismo, em terra, no Vale Inferior do Tejo, pouco depois do primeiro, no mar. "A deformação do terreno só acontece próximo do epicentro", diz João Fonseca. "Se fosse um sismo a 300 quilómetros, não haveria deformações permanentes."
A ideia de um segundo sismo é ainda corroborada, segundo a equipa, por descrições estranhas. "Muitos relatos dizem que o sismo durou oito minutos, mas teve paragens pelo meio, o que sugere que houve mais do que um. Nenhum sismo dura oito minutos. No máximo, dura dois", refere. "E percebe-se que há sugestões de que o segundo sismo terá sido mais próximo: dizem que foi mais curto e que a vibração foi mais veemente."
Este segundo sismo, que terá atingido uma magnitude de 6,5 a 7,0 na escala de Richter, não apareceu do nada. Primeiro, por volta das 9h30, deu-se um sismo no mar, com uma magnitude de 8,5 na escala de Richter. Seis a sete minutos depois, aconteceu outro na Falha do Vale Inferior do Tejo, que, de resto, é responsável por importantes sismos como o de 1531, em Lisboa, e o de 1909, em Benavente. "O primeiro sismo terá induzido a ruptura de uma falha que foi responsável pelas intensidades extremas sentidas nesta zona."
Esta proposta parte da ideia de que uma falha geológica, mesmo sem continuidade e separada por distâncias consideráveis, pode desencadear um sismo noutra falha. A primeira vez que se observou um sismo induzido foi em 1992, na Califórnia. "Até aí, havia grande relutância em aceitar que um sismo podia causar outro à distância."
Foi esse modelo explicativo que a equipa aplicou ao terramoto de 1755. Simulou o primeiro sismo a distâncias tão grandes como 350 quilómetros de Lisboa, no Banco de Gorringe, e viu que aquele poderia ter sido induzido uma ruptura na Falha do Vale Inferior do Tejo. O Banco de Gorringe pode ressurgir, assim, como candidato ao terramoto de 1755.” [TERESA FIRMINO,Público – 31.10.2003]

Cândido, de Voltaire, Passou por Lisboa

“Voltaire ficou tão impressionado com o sismo de 1755 que incluiu-o em "Cândido", a sua famosa história filosófica publicada em 1579. Ainda hoje, é o terramoto mais destruidor na Europa e continua a estar, a nível mundial, entre os maiores de todos os tempos, em termos de energia libertada (atingiu uma magnitude de 8,5 na escala de Richter). Superiores, só o sismo de 1960 no Chile, com 9,5 de magnitude, e o de 1964 no Alasca, com 9,1.Pensa-se que terão morrido 30.000 pessoas, na região do Vale do Tejo e no Algarve.
Voltaire usa o excepcional terramoto de Lisboa como um dos cenários para as deambulações do ingénuo Cândido pelo mundo fora. Mas essas deambulações estão no centro de uma controvérsia filosófica na segunda metade do século XVIII, que, além da sua inspiração religiosa, tinha a ver com o optimismo defendido por vários filósofos, incluindo Leibniz. Diziam que este era o melhor dos mundos possíveis que Deus criou. Crítico, Voltaire questionava: que Deus é este que está sempre a enviar catástrofes? E ridiculariza a ideia de que este é o melhor dos mundos possíveis através de Cândido. Ele só encontra desgraças, como guerras e a catástrofe que afligiu a capital portuguesa. “[TERESA FIRMINO,Público – 31.10.2003]

sábado, novembro 01, 2003

 

1 de Novembro de 1755



“Lisboa tremeu durante alguns minutos a 1 de Novembro de 1755. Caíram palácios, desmoronaram-se igrejas, ruíram casas e mais casas. As próprias muralhas foram atingidas. Morreram milhares e milhares de pessoas. Quase em simultâneo com o terramoto registou-se um maremoto. Impelidas com fúria as águas do Tejo, quebraram as amarras dos barcos e submergiram a Baixa até às Portas de Santo Antão. Houve mais estragos, houve mais vítimas.

Quatro dias de incêndio ampliaram a catástrofe. Transformou-se numa sucessão de montes de escombros a cidade cruzada por ruas estreitas, pátios e escadinhas iluminadas por nesgas de luz.

Pombal agiu com lucidez e energia. Ladrões e assassinos atacavam a população espavorida e indefesa. Muitos tiveram execução sumária nas forcas colocadas em diversos pontos da cidade.

Em face da catástrofe, surgiram três hipóteses: a reconstrução alargando as ruas e reduzindo o número de andares de cada prédio; a remodelação integral do centro da cidade, que foi a parte mais atingida; e a construção, em Belém, de uma cidade inteiramente nova.

Venceu a proposta de Manuel da Maia : «a renovação total da cidade baixa (...) arrasando-a toda e renovando-a toda». Uma equipa que , além de Manuel da Maia, incluiu Eugénio dos Santos. Carlos Mardel concretizou o projecto.

Efectuaram-se tantas demolições que dir-se-ia outra convulsão telúrica. De tal maneira que o sargento mor Joaquim Monteiro de Carvalho, oficialmente encarregado de conduzir a tarefa, ficou conhecido pelo «bota abaixo». Engenheiros e arquitectos, apoiados pelo marquês de Pombal, conceberam o espaço futuro da cidade.” [António Valdemar, DN-8Dez.2002]



 

O SISMO DE 1755




O Terramoto de Lisboa em 1755 (Reid, 1914), que provocou cerca de 30.000 vítimas mortais (Mendonça, 1758), levou à devastação da capital, devido ao efeito combinado do sismo e do maremoto e incêndio que se seguiram.

 


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