Baixa Pombalina

 

"O que um pequeno número de jornalistas, de políticos, de banqueiros, de mundanos, decidir no Chiado o que Portugal seja - é o que Portugal é", afirmava Eça de Queiroz no século XIX ; contudo, já lá ia este tempo em que a política do país se decidia "entre a Casa Havaneza e o Grémio Literário" quando em 19 de Novembro de 1905, um brasileiro "bom conhecedor do negócio do café", transformou uma antiga loja de artigos de camisaria, situada em pleno Chiado, na Brasileira que ainda existe hoje! Digo existe porque o Marrare [localizado - no prédio onde se situava a Companhia de Seguros Império , na Rua Garrett] por onde passaram Garrett, Herculano e Passos Manuel e o Café Central onde está a Livraria Sá da Costa , no qual Eça e Antero escreveram o seu protesto pelo encerramento das conferências do Casino, não tiveram a mesmo sorte…
Em todo o caso, a Brasileira insere-se nesta linha dum Chiado , ponto de encontro de escritores e artistas onde se ouvia " o ruído da nação a pensar" - " as ideias nasciam ali e de lá seguiam para os ateliês, os gabinetes, S. Bento, o Terreiro do Paço, as redacções", como afirmou Appio Sottomayor num recente artigo n' A Capital.
Esse tempo já lá vai, hoje o café é mais uma atracção turística, serve para tirar a fotografia junto ao Fernando Pessoa esculpido pelo mestre Lagoa Henriques. Poucos saberão que o poeta nem era muito "fanático deste café" e que o Santa Rita Pintor se livrou de levar uma tareia ali à porta da Brasileira, "ao explicar a quem lhe queria bater que, na realidade, esse Santa Rita não existia: o que viam ali era um fato, uma camisa que andavam - sem ninguém dentro"…