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baixapombalina - blog sobre as polí­ticas de intervenção na Baixa Pombalina

 

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quinta-feira, setembro 30, 2004

 

| ... "vasculhando na memória"... |

 


"O espaço do ascensor de Santa Justa, agora que sigo vasculhando na memória, foi teatro de muitos momentos da minha vida. No restaurante A Quinta, pendurado sobre a Baixa, mesmo ao lado do elevador, jantámos com o Curt Mayer Clason vários escritores na berra desses mesmos anos 60, entre eles o Cardoso Pires e o Abelaira; e do mirante que fica ao lado mostrei de outra vez a dois grandes poetas, o Murilo Mendes e o Jaime Salinas, o soberbo panorama do Castelo e da Sé, que encimam esse tão especial casario ocre, castiço e lírico, o dos quadros de Carlos Botelho, que vai descendo de Santa Luzia até às gruas dos cais e aos mastros do rio enfadado de sol.
Cá em baixo, junto à base do elevador, à porta do então Salão Império, em 1970 (ou 197l?), estive longos minutos, nervoso, com metade de uma folha do "Borda d'Água", mal cortada, fechada na minha mão, à espera da pessoa, para mim desconhecida, que me traria a outra metade da mesma folha, para um importante encontro clandestino. Era uma rapariga magra, que me pareceu disfarçar o nervosismo com um sorriso. Hoje que tanta gente, velha e nova, vive a farejar o dinheiro, em todos os cantos da cidade e da vida, e a comprar luxos inúteis quase por obrigação, ainda me aquece aquele aperto de mãos, que se davam uma e outra à luta pela liberdade, sonhando um país que (ainda) não existe.
Do calor branco do Verão vinham as flores baratas que comprávamos, à esquina das escadinhas de Santa Justa, para a alegria da namorada ou da parceira de uma noite bonita e casual. Viver à espera da PIDE, com projectos incertos, dava direito a beber de vez em quando a espuma de uma hora louca." [Urbano Tavares Rodrigues / Acrílico sobre Tela, Artista: Sara Antunes]

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