Baixa Pombalina

Vinte
e Três Frades por Terra e Sete em Parte Incerta

Por JOSÉ ANTÓNIO
CEREJO

^{Quinta-feira,
08 de Janeiro de 2004}

Ao contrário do que o título pode sugerir, não estamos a falar de nenhuma
tragédia conventual. Os frades de que aqui se trata são os também chamados
pilaretes, cada vez mais presentes nas nossas cidades para proteger peões e
passeios da selvajaria motorizada. A moda generalizou-se em Lisboa no último
mandato autárquico e continua a expandir-se à medida que as dificuldades de
estacionamento se agravam e a mobilidade de quem anda a pé se reduz. No
Terreiro do Paço, a vitória das pessoas sobre os máquinas - justamente
reivindicada pelo anterior executivo municipal - passou também pela instalação
de mais de duas centenas de frades metálicos, que passaram a vedar o acesso dos
automóveis às amplas calçadas que rodeiam a mais emblemática praça da
capital. Para vergonha de muita gente, a começar pelos responsáveis
municipais, a falta de civismo dos condutores manifesta-se há muito, e em todo
o seu esplendor, no estado em que se encontra grande parte dos 80 pilaretes
verdes, com o brasão da cidade em relevo, que foram instalados do lado
ocidental do recinto. Vinte e três deles estão tombados ou completamente
arrancados e sete desapareceram sem deixar rasto. Por ironia, a zona mais
afectada é a dos CTT e do Lisbon Welcome Center, espaços muito procurados
pelos turistas, e a dos ministérios da Agricultura e da Defesa. Frente à
entrada do ministério de Sevinate Pinto foram mesmo arrancados três exemplares
seguidos, para que os carros possam subir os passeios sem problemas. Mais
respeitinho existe no topo Norte e no lado Oriental, onde imperam,
respectivamente, os ministros da Administração Interna e Justiça e a ministra
das Finanças. Do lado dos ministros das polícias e dos tribunais,
sintomaticamente, não há um único pilarete que não esteja no seu sítio. E
em frente aos serviços de Manuela Ferreira Leite só um deles foi derrubado.