|
Banca de Jornais veja aqui as edições de hoje
quinta-feira, janeiro 22, 2004
A Baixa está como os santos padroeiros da cidade de Lisboa - São Vicente e Santo António
Mas há uma grande injustiça neste ostracismo a que Lisboa votou São Vicente, escreve hoje num interessante artigo José Henrique Soares n'A Capital [p.16] "o mártir foi um homem admirável. Sofreu por um ideal - o cristianismo - que, no seu tempo, pouca gente arrastava, mas que assustava o Império Romano |…| aguentou todos os impressionantes suplícios de que foi vítima com a serenidade e a coragem que são privilégio dos que viram a luz, dos que sabem que, mais cedo ou mais tarde o futuro lhes dá razão. Séculos depois da sua morte, as suas relíquias, guardadas em Valência, foram trasladadas para o nosso país, com medo do sarraceno, e acabaram por chegar a Lisboa, após passagem pelo cabo que, ao menos esse, ficou para sempre com o seu nome. Se Lisboa ligasse ao seu padroeiro, até nisto ficaria a ganhar: encontraria no próprio trajecto do santo, de Valência para Lisboa, um lenitivo para a recente perda da organização da "América Cup" em vela para aquela cidade espanhola … Viesse o mártir de novo a esta terra e que péssimo conceito faria desta cidade, bela é certo, mas habitada por gente insensível, capaz de o condenar a tão grande esquecimento. |…| É tão grande a injustiça deste mundo, que, desta vez, se voltasse, talvez nem os corvos o seguissem…".
Assim também a Baixa, quase a fazer duzentos e cinquenta anos, construída de acordo com o ideal das Luzes tem aguentado com serenidade e coragem todos estes impressionantes suplícios que a fazem padecer no martírio do esquecimento.
Mas a cidade, tal como fez com Santo António, tomou-se de amores por ela, tornou-a popular e fotogénica. É quase impensável gerir o município sem um projecto para a Baixa. Aliás, a recuperação e reabilitação da Baixa Pombalina é o mais consensual de todos os projectos da cidade e do país.
O importante é que esses projectos não sejam como o santo padroeiro esquecido. Valha-nos, ao menos, Santo António!…