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sábado, outubro 18, 2003

 

RELATOS DO TERRAMOTO DE 1755 [A]

Carta dum mercador inglês, residente em Lisboa à data do Terramoto, a um compatriota amigo.

“... Pode, talvez, tornar-se necessário informar-vos previamente de que a cidade de Lisboa, situada na margem norte do rio Tejo, a cerca de seis milhas do mar, assentava sobre terreno muito irregular e, também, de que as suas ruas e edifícios eram em geral extremamente irregulares. Um vale entre duas altas colinas densamente coberto de edifícios seria a descrição geral do local. O vale, que corre de norte a sul, foi sem dúvida o local da antiga cidade; no lado próximo do rio ficava o palácio do rei, com uma grande praça aberta para nascente, separado do cais principal da cidade por alguns edifícios baixos, um pequeno forte e uma muralha, e uma praia de areia muito frequentada; no outro lado vale existia outra grande praça chamada Rossio, na qual se realizavam um mercado diário e uma feira semanal: aí se situava a Inquisição, a Igreja e o Convento de S. Domingos, o hospital e outros edifícios tanto públicos como privados. As principais ruas da cidade encontravam-se entre estas duas praças e o meio da área por elas delimitada poderia considerar-se como centro daquela. No cume da colina para o lado oriental situava-se o Castelo de S. Jorge ou Lisboa, com uma plataforma espaçosa defronte, rodeado por uma muralha de parapeito coberta de canhões. E toda a colina cujas ruas e vielas eram notavelmente estreitas, estava repleta de edifícios, excepto parte do seu lado ocidental. Na colina para poente existiam muitos edifícios majestosos, particularmente o palácio dos Bragança, e, nesta parte da cidade, a generalidade das ruas era mais larga, os edifícios melhores e as paisagens mais agradáveis do que em qualquer das outras. Espalhavam-se pelas várias partes da cidade conventos espaçosos e palácios principescos da nobreza: e de igrejas e capelas havia uma quantidade inumerável; não sendo extraordinariamente belas na sua arquitectura, eram imensamente ricas em ornamentos interiores. Não me alongarei sobre as outras partes públicas e privadas daquela cidade que agora já não existe; tendo-vos dado, assim o espero, uma ideia suficiente da sua situação para o meu propósito presente."
"...Mas para voltar ao meu relato desta terrível calamidade, tenho que referir agora que aqueles que puderam observar os movimentos da Terra durante os abalos dizem que as suas ondulações eram de leste para oeste, que é o curso do rio Tejo de Lisboa para o oceano. Durante os dois abalos violentos do terramoto, o cais principal da cidade, que era novo e construído em mármore bruto de um modo extremamente sólido, pois as pedras estavam não só seguras umas às outras com ferros, mas também unidas por juntas, de forma que constituissem quase um bloco único, afundou-se todo em conjunto (embora a maré vazasse antes muitas jardas abaixo da sua base) bem debaixo de água e tão fundo que nenhuma vara conseguiu alcançar a sua parte superior. Desde então, contaram (mas com que verdade não sei dizer) que, tendo sido experimentado com um fio, se descobriu ter-se afundado cinquenta braças abaixo da superfície da água. Assim, é provável que todo o leito do rio esteja alterado, pois durante os primeiros abalos e uma hora antes do avanço da água, da maneira tão extraordinária que eu descrevi, vários barcos passando no rio foram vistos a rodopiar como num remoínho e, então, com as popas levantadas fora da água, mergulharam a pique, sem voltar a subir, pelo menos ao alcance da vista dos observadores. Vários montes de sal nas margens do rio, muitas léguas acima de Lisboa, afundaram-se no chão quase a toda a altura e assim ficaram. A terra abriu-se em bastantes locais do reino, como em Alcântara, uma légua a oeste da cidade; em Sacavém, duas léguas a nordeste; em S. Martinho, quinze léguas para noroeste; em Azeitão, três léguas para o sul; e em Setúbal, quatro léguas para sudoeste, sem mencionar locais a maior distância. Algumas destas fendas ainda permanecem abertas, outras voltaram a fechar-se, de algumas brutou água, de outras veio um vapor sulforoso e de outros proveio apenas vento.
Em relação à extensão deste terramoto e suas consequências, de momento apenas podemos dizer que foi imensamente grande. Sentiu-o todo o Portugal e a maior parte, se não todo o reino de Espanha. Chegaram navios que o sentiram no mar a 50 léguas a oeste. Diz-se que foi sentido em Cork na Irlanda; e disseram-nos que houve um avanço do mar muito considerável e irregular em Mounts-Bay, na Cornualha. Estamos impacientes por saber o que se passou em França, Itália, Barbária e nas Ilhas ocidentais, e estamos, de facto, em grande apreensão pela segurança das últimas."...

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