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sábado, outubro 18, 2003

 

“ O DIA DO TERRAMOTO” - DA REALIDADE À FICÇÃO…

“ Durante seis minutos intermináveis Lisboa oscilou, rasgou-se, abateu-se como um castelo de cartas. O estrondo daquele mundo que se resolvia numa avalanche de pedra abafou o clamor pavoroso, a gritaria, o desespero de quantos sofriam as horas terríveis do cataclismo.
— É o fim do mundo! É o fim do mundo!
Assombrados com o espectáculo, nem utilizaram o binóculo. As pessoas atropelavam-se para alcançarem lugar seguro. Mas o solo estalava, abria brechas medonhas de onde saíam nuvens de vapor fedorento. As paredes rachavam, os tectos abatiam, as janelas rebentavam, os vitrais estilhaçavam-se, os sinos de bronze precipitavam-se do alto dos campanários, esmagando homens, mulheres, crianças e animais que, prisioneiros do entulho, não conseguiam dispersar.
De repente levantou-se um vento furioso, que avivou as primeiras chamas. O fogo alastrou então em vários pontos da cidade, devorando tecidos, madeiras, palheiros, telhas, sobrados, numa voragem sem fim!
— O fogo está a chegar ao castelo!
— A pólvora vai rebentar!
— A colina vai explodir!
— Deus tenha piedade de nós!
— Para o Tejo! Para o Tejo! — gritou alguém. — Só à beira do rio é possível escapar.
Uma multidão aterrorizada correu para a margem. Espezinhavam-se uns aos outros na ânsia de salvarem a pele. Mas não tardaram a recuar espavoridos. As águas erguiam-se em fúria. Violentos remoinhos sugavam barcos pequenos e grandes arremessando-os de encontro ao cais, onde se despedaçavam.
Depois, um sorvedouro do inferno inverteu o movimento das águas e o rio quase desapareceu, deixando a descoberto um fundo de lodo onde se debatiam peixe e irrompiam jactos de enxofre por entre lama viscosa, a borbulhar.
Durante alguns instantes ninguém se moveu, tal era o horror que sentiam. E a pausa seria fatal! Uma onda gigante crescia do fundo do oceano. Enorme, escura, enrolou-se no ar e abateu-se sobre a cidade com um fragor inacreditável. Rolando sobre si mesma, arrastou consigo num torvelinho alucinante tudo o que encontrou à passagem.”

Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, O Dia do Terramoto, Editorial Caminho, Colecção “viagens no Tempo”, n.º 7.


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