aves05aves05

 

baixapombalina - blog sobre as polí­ticas de intervenção na Baixa Pombalina

 

Click for Lisboa, Portugal Forecast

 

 

Banca de Jornais veja aqui as edições de hoje

 

terça-feira, outubro 21, 2003

 

DEBATE NA BLOGOSFERA SOBRE O PROBLEMA DOS LENÇÓIS FREÁTICOS NA BAIXA POMBALINA

A baixapombaliana recebeu do cibernauta responsável pelo blog planeta-reboque um mail que, pela sua actualidade, pertinência e rigor informativo tomou a liberdade de transcrever na integra:

“Tenho lido com frequência os seus artigos sobre a Baixa, desde que descobri o seu blog. Em relação ao postado hoje relativo à polémica dos lençóis freáticos deixe-me acrescentar ao lá dito que, no decurso dos trabalhos de remodelação do quase-quarteirão do BCP, já se tinha verificado a inverdade dos receios antigos (dos quais penso o Arq. Ribeiro Telles foi um dos propaladores) de que, a baixar o nível freático da Baixa, as estacas secariam e, consequentemente, viriam a apodrecer retirando capacidade de carga às fundações dos edifícios. De facto, parte das estacas já estavam acima do nível freático, umas apodrecidas, outras não, e nada se tinha alterado no comportamento daqueles. Penso, aliás, que será baseado nessas e noutras observações que o Eng.Mário Lopes concluiu o que cita.

Muito mais grave foi a descaracterização estrutural que a maior parte dos edifícios pombalinos sofreram, com a demolição das paredes interiores ao nível do rés-do-chão e com o aumento de pisos. Aliás esse vício continua no presente, há poucos anos tive a oportunidade de visitar uma cave de um pronto-a-comer da rua Augusta em que, calmamente, tinham retirado parte da parede meã com o edifício contíguo para junção dos dois espaços. Isso é que é preocupante quando se sabe o risco sísmico que o nosso país tem! E assim se vão as "nossas" certezas quanto à fiabilidade de comportamento dos edifícios da baixa com estrutura em gaiola anti-sísmica...

Voltando aos problemas de subsolo. Uma das zonas mais periclitantes em termos de instabilidade dos subsolos - e sobre a qual não vejo muitas referências, provavelmente porque o caso não estará muito divulgado e porque os acidentes que têm ocorrido são de muito pequena expressão (por enquanto...) é a da encosta de Alfama. Com efeito, a profusão de nascentes e a ocorrência de vazamentos no sistema municipal de esgotos têm vindo a arrastar os finos dos subsolos criando (em alguns casos verificados in loco, na maioria pressupondo-se) verdadeiras grutas subterrâneas cujos tectos e paredes a prazo cederão, arrastando edifícios e ruas.

É claro que às notícias só interessa o pós-desastre ou a iminência de um escândalo. Provavelmente a blogosfera será o local ideal para a discussão destes problemas sem o alarido dos media.

Fica a chamada de atenção.”



Concordo com este seu desafio e, desde já, fica lançado o debate
Estou também em absoluto acordo quando se refere ao problema da descaracterização dos edifícios pombalinos. De facto, as estratégias de intervenção no domínio da reabilitação estrutural nos edifícios da Baixa Pombalina pouco diferem das utilizadas nos edifícios novos; são, por isso, fortemente invasivas não só da reabilitação sísmica mas também da manutenção dos níveis freáticos.
O betão armado altera o conceito original da construção, provoca um aumento do peso e possivelmente a necessidade de reforço das fundações, como muito bem afirmou o Engenheiro V. Cóias e Silva no artigo [“Salvaguarda da Baixa Pombalina: Reabilitação estrutural usando métodos pouco intrusivos”] publicado no n.º 11 da Revista Pedra & Cal.

Um artigo de ALFACE VOADADORA, sobre os lençóis freáticos da Baixa Pombalina



New Page 1




“De vez em quando, a propósito de alguma coisa ou de coisa nenhuma, lá vem a velha história de que um dia vai acontecer uma grande desgraça à zona da Baixa.
O que corre é que a reconstrução pombalina, começada logo após o terramoto, em 1757, teria sido feita sobre estacas de madeira e plataformas. Os prédios estariam assentes nessas estruturas, por onde passaria água – ou rios, ou lençóis freáticos, ou ainda o refluxo das marés. Quando se pensou em construir o metropolitano naquela zona, em 1958, logo os "técnicos" de plantão nos cafés disseram que era impossível fazê-lo dentro da água e do lodo.
Quando se reconstruiu o Teatro de D. Maria, após o incêndio de 1964, houve a mesma conversa em relação à dificuldade de fazer novas fundações "dentro de água".
Actualmente, o pânico é que os novos prédios construídos na Avenida da Liberdade, com as suas caves de vários andares, estejam a impedir a circulação da água, deixando as estacas da zona da Baixa a seco. As tais estacas precisariam de estar submersas em água para não entrarem em contacto com o ar e apodrecer.
O arquitecto Nicolau, que trabalha no Departamento Municipal de Planeamento e Gestão Urbanística (DMGPU) e é um conhecedor da cidade, confirma e contradiz esta simplicidade. Por um lado, "o subsolo é uma massa dinâmica, que está sempre em movimento". As terras movem-se, ajustam-se às cargas, escorregam. São movimentos muito lentos e absolutamente normais, aos quais os edifícios se vão adaptando. Mas, por outro lado, o arquitecto tem a impressão de que muitos bancos na zona da Baixa (e salienta que não se está a referir especificamente ao do BNU) terão construído grandes cofres subterrâneos, alguns deles quase em segredo – ou pelo menos sem as necessárias inspecções municipais. Esses volumes pesados, enterrados em terreno móvel, desequilibram as estruturas dos edifícios e podem provocar problemas localizados. O arquitecto considera impossível a hipótese de um afundamento de grandes proporções, a não ser em caso de outra grande catástrofe natural.
O sistema usado na reconstrução da Baixa já era utilizado anteriormente, não se sabe desde quando, e continuou a ser praticado até à "revolução" do cimento armado, já neste século. Foi estudado com todos os pormenores pelo engenheiro Brazão Farinha, do Metro, que publicou os resultados nos "Cadernos do Metropolitano - uma interessante colecção de livros que, infelizmente, só podem ser obtidos directamente da empresa.
Consiste esse sistema, essencialmente, em formar um apoio de estacas de madeira, enterradas na vertical por baixo das paredes-mestras, para que estas não deslizem com os movimentos do terreno. As estacas de pinho, redondas, com 15cm de diâmetro e cerca de um metro e meio de comprimento, eram batidas no solo por meio de um engenho chamado bugio. (O trabalho, muito violento, deu origem ao termo "mandar bugiar") Nas pontas que ficam fora da terra eram pregadas travessas de pinho, onde encaixavam outras travessas, formando uma espécie de grade. Essa estrutura é cheia com massa e sobre ela levanta-se a parede/fundação de pedra e argamassa, que começa a cerca de três metros de profundidade.
Portanto há madeira, mas madeira enterrada em alvernaria e rodeada de terra. Os edifícios não estão "suspensos" sobre uma estrutura mergulhada em água ou lama. As terras das fundações são aterros mistos e areias de aluvião – não tão firmes como uma rocha, mas longe dos estado líquido ou mesmo pastoso. Esta "cama" de madeira era uma maneira, pensava-se, de absorver as vibrações do solo, em caso de abalo sísmico.
Segundo Brazão Farinha, o estado das madeiras postas a descoberto nas escavações do Metro era tão bom que se sentia o cheiro do pinho fresco!
Quanto aos possíveis rios, ou ribeiras, não existem há centenas de anos. Corria a ribeira de S. Sebastião sob a Rua das Portas de Santo Antão, muito antes de esta rua existir; e a ribeira de Arroios passava sob a actual Avenida Almirante Reis e Martim Moniz, para se encontrar com a primeira por alturas do cruzamento da Rua da Prata com a de Santa Justa – isto há muitos terramotos atrás, em tempos pré-históricos. Pelos achados arqueológicos, calcula-se que a ribeira de Arroios existia na época romana. Mas o solo estava então uns cinco metros acima do nível do Tejo )hoje está a onze metros) o que impossibilita qualquer hipótese de navegação. Documentos mostram que terá sido atolada no século XV.
Há, de facto, águas freáticas (uma espécie de lençol de humidade) que foram localizadas no largo D. João da Câmara, no Rossio e e na Praça da Figueira. Os terrenos de aluvião, por onde essas águas deslizam muito lentamente, têm uma espessura de cerca de 30 metros. Mas estes terrenos estão suficientemente consolidados para que não haja qualquer fluxo ou refluxo proveniente das marés do Tejo.
As fundações dos edificios e os túneis do Metro não chegam a tais profundidades, pelo que o escoamento dessas águas se faz por baixo das estruturas de cimento impermeáveis.
Há um estudo prestes a ser feito, que completará as observações dos engenheiros do Metro; trata-se do levantamento do subsolo junto aos Cais das Colunas. A ideia de fazer um túnel rodoviário, a atravessar a frente ribeirinha na Praça do Comércio, levantou a hipótese de essa "parede" de cimento bloquear as águas mais superficiais do lençol freático. (O perigo não se coloca para o túnel do Metro na mesma direcção, pois foi construído a muito maior profundidade.)
Por isso vai-se fazer uma prospecção do subsolo na zona. O estudo pode concluir que o túnel trava esse lento movimento das águas, e que portanto terão que ser escoadas de alguma forma. Mas, quaisquer que sejam as conclusões, não irão contrariar os factos, comprovados, de que não há rios sob Baixa, nem os prédios foram construídos sobre estacas subaquáticas, nem há movimentos significativos no subsolo. Que perdoem os técnicos voluntários e os pessimistas catastróficos, mas a Baixa não está a afundar-se.”
In, Alface Voadora de 3 de Abril de 1999





Comments: Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?