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baixapombalina - blog sobre as polí­ticas de intervenção na Baixa Pombalina

 

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domingo, outubro 26, 2003

 

"A BATALHA DA QUALIFICAÇÃO"

No DN de hoje, Maria João Pinto assina um artigo que, pela sua pertinência, a “baixapombalina” transcreve.
Mais do que uma aposta nos projectos de recuperação, reabilitação, conservação - é preciso definí-los com rigor no” falar” e no “fazer”. «Em construções antigas é o projecto que tem de adaptar-se ao edifício e não o contrário». Vale a pena reflectir sobre estas ideias relativamente às políticas de intervenção na Baixa Pombalina.

"Recuperação, reabilitação, conservação. Muitas vezes usados indiscriminadamente, tais conceitos são hoje parte integrante da linguagem corrente, com o risco associado de perda de rigor no falar e, porventura, no fazer. Há muito debatida em fóruns da especialidade, a necessidade de apostar numa sólida formação e na prática da excelência ganha maior acuidade num momento em que, pelo País, se anuncia o propósito crescente de intervir em conjuntos urbanos antigos. Tal propósito é de saudar, mas quantas empresas estarão verdadeiramente qualificadas para executar intervenções desse tipo, sabendo-se que o mercado está esmagadoramente direccionado para a construção nova?

«Em construções antigas é o projecto que tem de adaptar-se ao edifício e não o contrário». Por outro lado, e muito antes de se chegar a essa etapa, a «fase de diagnóstico é absolutamente crucial porque, sem ela, não faz sentido qualquer projecto». João Appleton _ especialista em engenharia de estruturas e orador no encontro «Conservação de monumentos e restauro de imóveis de prestígio», recentemente promovido no Laboratório Nacional de Engenharia Civil pela empresa BEL _ sublinharia ainda a «humildade e respeito» que é necessário ter perante o objecto em que se vai intervir, associados ao «rigor profissional naquilo que se sabe e naquilo que se pratica».

De igual modo, salientaria o «papel fundamental da experiência do observador»: «Como um médico que observa o seu doente, os edifícios 'falam' mediante sinais que temos de procurar sejam inteligíveis», de modo a «eliminar anomalias e suas causas».

O diagnóstico, disse João Appleton, «é uma arte que pode ser ensinada e que pode ser aprendida» e, tal como nesse fio de continuidade, há que ter presente que «os edifícios nascem, crescem, envelhecem e, muitas vezes, morrem» devido a erros que poderiam ter sido evitados _ porque intervir em património exige, antes de mais, «conhecimento profundo» de materiais e técnicas clássicas de construção, esferas de saber de que o ensino da arquitectura e da engenharia continua alheado em Portugal.

A humildade de reconhecer que estamos longe de tudo saber é, também, crucial. Como referiu José Delgado Rodrigues, especialista em conservação da pedra, os «métodos de consolidação [de materiais pétreos] não são ainda inteiramente dominados». Por outro lado, frisou, «a relação entre o artista e a obra em pedra é substancialmente diferente» da estabelecida com outros suportes: em materiais pétreos, «a perda de superfície significa a perda de toda a ligação com o processo criativo». Mesmo em intervenções de menor amplitude: «A limpeza de superfícies arquitectónicas é extremamente mediática», lembrou Delgado Rodrigues, «havendo um negócio apetecível» em seu redor. Todavia, «não é inócua: a limpeza interfere com o valor e o significado das superfícies, pelo que também intervenções dessa natureza têm de ser executadas por profissionais com formação adequada».

Quem trabalha na área do património sabe que preservá-lo para além daquele que seria o seu tempo «normal» de vida representará sempre uma luta contra a morte. «Tal como as pessoas, os edifícios e as cidades também envelhecem», lembrou, por seu turno, Gonçalo Byrne. «Entregues à solidão do tempo, têm, também, uma vida», vida essa que pode ver-se encurralada «entre duas atitudes extremas e nefastas». Para o arquitecto, os modos de pensar o património no mundo «oscilam muitas vezes entre a perspectiva consumista e o mito do retorno _ impossível _ ao tempo original». Equilíbrio, rigor e transdisciplinaridade serão, em seu entender, fundamentais para que a arquitectura, «que foi, é e continuará a ser sempre contemporânea», cumpra a sua missão
. "[MARIA JOÃO PINTO]

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